Bispo António Francisco, a Profecia da Bondade.

Bispo António Francisco, a Profecia da Bondade.

“Sendo a fé um dom, como pode ser motivo de educação? Não pode realmente ser ensinada, mas sim irradiada. Os que a possuem podem significar a estrela-guia, a perseverança num encontro difícil de suceder, mas cuja esperança comove todo o nosso ser. É possível que a Igreja se volte para esse apostolado da fé que foi extremamente importante no seu começo.”, Agustina Bessa-Luís, Ensaios e Artigos (1951-2007), Fundação Calouste Gulbenkian, Volume I, pp.869-870.

1.Opinam certas mentes, com instinto predador, em desabafo desigual: que acabam a escrever sempre o mesmo «Livro». A mim nem tanto assim porque dessa qualidade não partilho. Neste Bispo, a Bondade era inqualificável para os intelectuais-de-algibeira. Tento nessa advertência ensaiar sempre a mesma realidade por si irradiada, agora de modo mais profundo. Por isso, tive de reler a primeira tentativa: “D. António Francisco, o Bispo da Bondade” (in https://pedrojosemyblog.wordpress.com/2014/03/09/d-antonio-francisco-o-bispo-da-bondade-breve-ensaio-testemunhal/). E para pensar bem “isto” e escrever bem “isto”; deveria celebrar o Sacramento da Reconciliação, deambulei sem destino, mas não fui capaz e acredito que isso possa acontecer a certos tipos de Penitentes, onde estou incluído e mal assumido. Mudei a minha agenda porque o Senhor Dom António Francisco, sempre mudava a “sua” agenda (de sua tinha pouco…) para a Todos acolher no Ser, dentro de um Tempo paciente e quase infinito. O Padre mais Velho à mesa do almoço dizia: “…a morte de D. António Francisco vai inspirar o arrependimento a muita gente”. O remorso é coisa feia, se for sem honestidade. Todavia antes agora que depois!?

2.Nosso Deus conduziu-o à Plenitude apressadamente. Digo «Nosso» porque percebi mais um pouco. Deus realizou nele todas as Possibilidades de uma só Vocação. Só podia ser assim! O rosto da Bondade não é permissivo; não vai nos jogos de poder; desarma os cínicos, tolera os violentos, e permite aos frágeis e aos pobres: uma vez, um lugar, uma voz. Simplicidade não era estratégia, era modo de ser para a todos poder chegar. “- Os pobres não podem esperar”. Andamos tão impacientes com insignificâncias. Educados de barriga cheia. Como nos ajudou, nós aveirenses a encarnar o lema «Vive esta hora»! Ironia sagrada ou não, faleceu num dia “11”. Ele encarnou a alma da Missão Jubilar. Hoje é o Dia em que nos ajuda a rezar com a Verdade da sua morte, que é anúncio da Páscoa Eterna. “Dava-se, oferecia-se. Estava, simplesmente estava. Estava e deixava estar.” (Paulo Rangel). Sacramento do sorriso disponível, criativo e desinstalador.

3.O rosto da Bondade dentro da funcionalidade, ao serviço da funcionalidade que é coisa singular. Encarnou a Bondade como modo de ser. Daí o traço singular da Generosidade. Do seu lugar dava o lugar a todos. Bem-aventurados os Bons, porque serão amados como Irmãos e chorados como Amigos de Deus. Um bom homem e um bispo bom. Nada mais poderemos aspirar como introdução credível à santidade como processo de conversão evangélica. “Os benfeitores de Cristo não são por ele chamados afectuosos ou caridosos. São chamados justos” (Simone Weil). A sua Bondade era sinal de defesa justa. Da procura da Justiça que é procura de Misericórdia. Fomos nós que inventámos a distinção entre Justiça e Caridade. É fácil compreender porquê. Por isso, a sua Bondade era incómoda; era simples e não simplista ou simplificadora. Não será esquecida e estará sempre presente na Memória como Profecia. Páscoa da Criação.

4.Trouxe-nos de volta à «Casa Diocesana». A Diocese…, a Igreja…, a Reunião…, o Passeio…, a Refeição…, a Correção fraterna…, as Lágrimas…, as Viagens cansativas e desgastantes, os Horários impossíveis de conciliar, as Presenças sempre que necessário, as Distinções que não ferem a Dignidade mas a restauram; tudo era um permanente voltar à «Casa do Pai»: «sentir-se em Casa»; abrir as portas da «Casa», para que a Rua fosse um lugar de Civilização e Cidadania. Uma Casa Comum para Todos. No seu coração habitou a Bondade de Deus, agora o nosso coração ferido de Bondade é um coração mais humano e por isso, purificado e vivificado pelo Espírito Santo. Sejamos dignos e agradecidos, como insistentemente nos repetia, pela da Graça e pela Profecia, que foi o seu Ministério como Bispo, à Igreja em Portugal.

Pe. Pedro José, Gafanha da Encarnação e Gafanha da Nazaré, 13-09-17. Caracteres (esp.incl.): 4290.
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