Ver-se nos filmes, repensar, isto é, reagir e convergir.
Apontamentos de não-especialista, sobre os filmes (não suficientemente polémicos) que não podem ser ignorados mas que devem ser trabalhados “catequeticamente”: O Jovem Messias [The Young Messiah] e Ressurreição [Risen].
Vi dois filmes recentes de temática religiosa e cristã/católica (e também antropológica). Não serão “obras-primas”, apesar dessa “classificação”, são de primeira ordem/possibilidade no refazer das convicções da Vida Espiritual e da Imaginação (des)Crente. Não se trata de imaginar apenas uma experiência, mas de experimentar uma imaginação nova. Um Sentido novo e pleno. Na linguagem dos filmes: um perigo no problematizar e uma ferramenta a saber utilizar.
O Primeiro filme, “O Jovem Messias” [“The Young Messiah”[1]], segundo apresentação pública é baseado no livro de Anne Rice. Não conheço a autora e não li o livro. Li, e não apurei devidamente, que a autora, se diz cristã, mas não frequenta nenhuma igreja “apresenta uma história de ficção realista”. A própria diz que o seu romance “afirma e aceita o magnífico mistério da Encarnação”. As suas fontes são a “História e os Evangelhos”, na tentativa de mostrar como Jesus viveu a sua infância. Entre as “polémicas” está o facto de apresentar o menino Jesus a fazer milagres antes do seu baptismo. Fiquei com impressão geral que transparece Fé e abunda uma Crença generalizante ao sabor moderno.
A história resumida: Aos sete anos, ele está com a sua família em Alexandria, no Egipto. Os seus pais, José e Maria, mantêm segredos sobre o seu nascimento e tentam explicar por que ele é diferente de outros garotos. Com a morte do Rei Herodes, resolvem regressar a Nazaré, sem saber que o herdeiro do trono, também está determinado a matar Jesus.
O filme do diretor Cyrus Nowrasteh tem o estreante Adam Greaves-Neal no papel de Jesus Cristo e Sean Bean, de Guerra dos Tronos, como Severus, um general romano decidido a encontrar o jovem messias prometido. «Delicioso» o pormenor do «camelo» brinquedo preso na parte final ao “cinto” do general romano… Há figuras menores sem grande espessura. Gostei do menino Jesus adolescente, seu Pai e sua Mãe. Têm textura empática. O general perseguidor é “profissional” q.b.
O segundo filme, “Ressurreição” [“Risen”[2]], do diretor Kevin Reynolds, apresenta um oficial romano que assegura a execução rigorosa da sentença de crucificação e, posteriormente, investiga o desaparecimento do corpo do “proclamado Messias” – após ter presenciado e “ajudado” na crucificação; assiste, também, ao sepultamento em túmulo devidamente selado. Encarregado e enviado por Pôncio Pilatos (Peter Firth), o oficial, Tribuno Romano, Clavius (Joseph Fiennes), é em parte um céptico romano que inicia uma série de interrogatórios aos discípulos de Jesus de Nazaré (Cliff Curtis), para tentar descobrir se eles roubaram ou não o cadáver. Com a ajuda dum imediato legionário, Lucius (Tom Felton), ambos, iniciam “o processo de investigação”.
Na investigação de Clavius, em clima policial, o que no fundo está em causa é o acreditar ou não na ressurreição. Está subjacente uma reflexão a cerca da natureza da própria Fé. O que é que se acredita, no ato de acreditar. Num segundo momento, do filme reformulado por: “em quem se acredita, no ato de acreditar”. Clavius, que não é totalmente descrente, passa a acompanhar os discípulos de Jesus para ter então a certeza da Morte do «Nazareno», de que ele participou, será ou não real…, como contactar com o “vivente”…, o Messias, enviado por Deus. A decisão de «acreditar» fica suspensa até ao fim do filme e para além dele.
Neste segundo filme, que partiu também para mim, do primeiro filme: revejo figurações doutrinais sem querer encontrar erros teológicos. Onde estão as dúvidas existenciais intemporais? As perguntas que não sabemos ou não queremos fazer? Em múltiplos casos permaneço absorvido, mais profundamente, no segundo filme. Partilhei em encontros formativos e até (ousadia em alusões abertas… assim o espero) em homilias. Fico, «agora», a rebobinar uma afirmação que leio para mim em voz alta (não) crente, coerentemente e honestamente, com a lucidez da inteligência, usada como dom a partilhar: “Quem sabe se mesmo um não-crente não pode aceitar a ideia de que constitui ressurreição suficiente o facto de, neste mundo onde Jesus morreu, se poder afirmar em grande medida que, bem vistas as coisas, Jesus afinal não morreu. Se ele ressuscitou (ou não) não sei; mas que aqui, no mundo em que morreu, ele venceu a morte, disso tenho a certeza: porque tanto crentes como não-crentes andaremos às voltas com Jesus nas nossas cabeças enquanto houver seres humanos na Terra” (LOURENÇO, Frederico, O Livro Aberto: Leituras da Bíblia, Edições Cotovia, Lisboa, 22015, p.126).
Por: Pedro José, Gafanha da Nazaré/Encarnação/Carmo, 04-03-2016. Caracteres (incl. espaços): 7557.
Consulta: 1. https://cinema.gospelprime.com.br/filme-o-jovem-messias-infancia-jesus/, acesso, 03-03-2016; 2. http://observatoriodocinema.com.br/criticas/2016/03/critica-ressurreicao, acesso, 03-03-2016; 3. http://cinecartaz.publico.pt/Filme/357479_o-jovem-messias + http://cinecartaz.publico.pt/Filme/358107_ressurreicao , acesso, 03-03-2016.