esquivo de mim – 02

 

 

esquivo de mim   02

 

 

 

 

Eis a parábola em forma de realidade. Notável esta sensação duma sede sem fim. Há água, junto quatro pedaços de gelo, corto meio maracujá, açúcar q.b., e o copo quase transborda. Excessivo. Não esquecer, por duas vezes, a descida rápida em gotas correntes de Sapupara – a aguardente de cana do ceará, envelhecida ao sabor ouro. É também o excesso da sede já-morta-antes-de-vir-a-ser. Na vida as sedes são muito preciosas, dispõem-nos para a ação, para a procura e o encontro. As sedes no deserto afetivo são copiosas. Não obedecem às estações programadas. A liberdade de sentir sede consiste na predisposição para beber de todas as fontes. Amor esquivo em todos os estados líquidos, feitos por encomenda impessoal. O problema existencial não está na Sede. Sou feliz. Estou feliz. Serei feliz? A Sede é benéfica. A morte da Sede é a morte da Vida. Ansioso procuro mais do que sedes vivas. Beber com moderação e posse. Sobretudo tomar conta da sede. Tomar posse da minha impropriedade. Sou eu, prazer em desconhecer. Um sedento inquieto e pacificado nas sedes requeridas. Sede da sede minha libertação. Água viva. Água corrente. Água pura. Água cristalina.

Sempre a água da minha sede sem fim.

 

 

POR: Pedro José, Chapadinha, 07-12-2009.

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