voltei a ler o JL…
Durante anos comprei e li, comprei e não li, e finalmente, durante estes ultimos seis anos, não podia comprar nem ler o JL – o prestigioso e duradouro Jornal de Letras, uma referência na língua e na cultura da Lusofonia. Para os intímos no tempo em que cursava Teologia no I.S.E.T. – Coimbra, era conhecida a minha «excentricidade» de ter no quarto todos os JLs. Esse tempo acabou ainda bem e ainda mal. Mas, hoje, nesta tarde de chuva, nas margens do parque do Souto Rio, dentro do carro do-meu-pai, no local da «minha» Missa Nova (um local assim só pode ser profecia & memória) descobri o sentido da palavra melancolia. Li tudo o que queria do JL, Ano XXVII/Nº964, de 12 a 25 de Setembro de 2007. Voltei a ser EU, igual e diferente. Risquei: assim aprendo a ler e a escrever. Aprendo a amar a língua que me gera, aprendo a criticar a cultura que me produz e produzo. Sou um eterno aprendiz. Apenas isso. Partilho outra paixão antiga, um pequeno texto de Eduardo Lourenço, “Para sempre – Do texto à auto-ficção”, página 21. – Pedro José, Borralha, 03-09-2007.
“O melhor lugar do «crítico» é um lugar de insatisfação. Como o de todos os sacristães que tocam, mesmo com amor, nos vasos sagrados. O Graal de todo o crítico é transformar a água mágica do texto amado em vinho divino, a letra do texto em sangue de Deus. Glosa-se pouco ou nada o mais raro dos suplícios, o dos que se perdem no mar dos textos que são a nossa vida verdadeira, nós mesmos lidos e criados pelo que nos cria, e morrem de excesso de sede, como Tântalo, à beira da Obra divina que ao mesmo tempo lhes abre o paraíso e os deixa à sua porta. A maioria dos que vivem como abelhas, enterrados e sufocados pelo mel alheio, não vivem de outra coisa que do desejo e do sonho de que ao menos uma gota desse mel tome um dia a forma do seu coração. Digamos, da sua escrita”.